Maquiavel afirmara em seus pronunciamentos que o Princípe podia tudo para manter o poder e isto incluia, desde o uso da corrupção, da força para eliminar os adversários e as ações impopulares de tirânia para arrecadar impostos com o intuíto de, em seguida, distribuir pão e circo aos súditos e se para sobreviver fosse necessário mentir, que prevalecesse então a mentira.
Um recente episódio na política de Passos parece que teve a intenção de usar a máxima proposta por Maquiavel. O início desta ópera bufa aconteceu na sessão da câmara da semana anterior a esta, quando da tribuna o vereador Jeffinho disse que estava recebendo denúncias sérias contra o diretor de obra, Olavo Maia Lima. Diziam as denúncias, conforme Jeffinho, que ele – Olavo – desviava material e beneficiava apaniguados seus e até insinuações de que se benificiava também com uso de materiais de construção em obra própria. Claro é algo que merecia ser investigado, tanto para livrar o servidor de tal pecha como para imprimir-lhe alguma punição se comprovada alguma irregularidade.
Enquanto a coisa ficava nas hipóteses poderia ser tudo menos verdade, embora também não pudesse ser descartada que assim não o fosse. Jeffinho prometeu investigar. Edmilson, o único vereador de situação da câmara, porque os outros parece que só fazem firula para receber no fim do mês, afirmara na ocasião, que tinha levado o caso ao prefeito Hernani e que este lhe teria dito que mediante confirmação do fato demitiria de forma sumária o funcionário, o que pode mesmo fazer já que ele ocupa cargo de confiança.
O roteiro estava pronto para ser desenvolvido. Jeffinho iria procurar as provas. A turma da situação iria tentar desqualificá-lo. Natural na política, diria Maquiavel que escreveu seus livros de estratégia quando na maioria dos casos os regimes eram totalitários numa Itália dividida em diversos feudos. Mas ninguém imaginava o que veria a seguir.
Não é que Jeffinho descobriu servidores municipais trabalhando em uma determinda casa da cidade? Acompanhado de Dentinho e policiais trataram de lavrar boletim de ocorrência e levar o caso até o Ministério Público. Diz uma das testemunhas oculares do fato que um servidor, quando percebeu a chegada dos agentes políticos e polícia militar chegou a mencionar “a casa caiu”, um jargão usado por quem é flagrado cometendo delito, embora seja importante ressalvar que o mesmo dissera também que estava cumprindo ordens do chefe Olavo. Bingo, teria pensado Jefinho e Dentinho, estava comprovado pelo menos uma ação ilicíta do diretor de Obras.
Mas o que se viu na imprensa, em especial no diário local, foi outra história. A prefeitura de fato estava na casa, construindo um banheiro para uma pesssoa (uma mulher) cadeirante, que hava trocado uma possibilidade de ter uma casa no programa Minha Casa, Minha Vida, que ainda não está na fase de triagem dos futuros moradores das 500 feitas aqui, por esta obra que tornaria sua vida mais confortável junto a seus familiares. Para ilustrar, as fotos da cadeirante em situação dificil, e, para completar o quadro de comiseração, a prefeitura fazia o trabalho atendendo o pedido do Paulinho da Reintegrar, também cadeirante, vereador com mais de 2300 votos, o mais votado de Passos no último pleito.
E aí a casa caiu em cima dos vereadores, que zelosos tentaram passar a verdade e se viram transformados em impiedosos personagens, que estavam tentando impedir uma ação de profundo apelo social em favor de uma portadora de necessidade especiais.
Uma mentira bem pregada que está se transformando numa verdade consolidada, bem na linha de Goebels, o chefe da propaganda nazista da época de Hitler.
Mas o episódio acaba por aí? Creio que não. É preciso lembrar que a bem articulada manobra de comunicação da assessoria da prefeituta não cega os olhos do prefeito Hernani. Ele é dotado de um patrimônio (de homem íntegro e honesto) que ajudou derrotar Ataíde, também na época imerso num mar de acusações montadas contra ele pelo Ministério Público e por ex-diretores da Amapassos, da qual vem se emergindo pelas absolvições que vem conseguindo na justiça. E é correto entender que deste patrimônio para o qual o eleitor vem dando inestimável valor, o prefeito Hernani - e mais, o homem Hernani – não vai querer abrir mão.
Se ele não agir com a presteza que o caso exige, demitindo ato sumário o diretor de obras , pode ser considerado conivente com um ato ilegal ocorrido dentro de sua administração já que não existe nenhum programa de construção para atender pessoas portadoras de necessidades especiais (que seria louvável se existisse) e que outras dezenas, por não serem ligadas ao vereador Paulinho da Reintegrar, não tiveram a chance de ver construídas para si. Ademais um Programa fixaria critérios e não teríamos o mofo do privilégio que temos no presente caso, quando se sabe que a obra é necessária, mas não se tem nenhum indicador que ela atenda uma necessidade de amparo social, ou seja que tal só pudesse ser feita mesmo com recursos do município . E qual cidadão se oporia a uma obra realizada com amparo legal para beneficiar alguém que realmente precisa?
A dimensão que o caso ganhou, em razão da repercussão fundada na reportagem do diário local, promete desdobramento. Nesse caso, para que não se enrede na história, o prefeito José Hernani, para preservar o bom nome que tem, só tem uma saída: exonerar Olavo. Agora. Na próxima sessão da Câmara já pode ser tarde . E para encerrar, a análise que é feita aqui não tem a intenção de mostrar um posicionamento pessoal diante do caso, mas uma avaliação dentro do marketing político, como fazia primariamente antigamente Maquiavel, grosso modo, orientando os homens públicos em como manter o poder. A diferença é que naquela época o instrumento usado para convencimento era a força . Hoje é a história do homem público que lhe dá credibilidade. Hernani pode estar jogando fora a sua sem que se dê conta