A reunião da Câmara Municipal de Passos, como já mencionamos algumas vezes aqui, tem um momento reservado para a fala dos vereadores, o chamado Grande Expediente. Nesta hora, quando cada um se expressa livremente, fica fácil identificar quem é quem e como cada um realmente age politicamente e como cidadão, porque não deixa de ser uma expressão cidadã a fala de cada um.
Por isso, enquanto fala a situação, o posicionamento é sempre na defesa da administração, uso de palavras cuidadosas, mas mesmo ali se percebe quem é quem. Tenha-se o caso de Edmilson Amparado. A postura dele é sempre altiva e não disfarça nem um pouco que conhece o regimento , o que faz questão mesmo é de “ditar” as regras e “lições” a seus pares. Esta postura, embora tenha o reconhecimento de outros vereadores como verdadeira –ele conhece mesmo – causa irritação em alguns, até com certa dose de razão.
Foi o que aconteceu na sessão da última segunda-feira, quando Tia Cenira usando da palavra mostrou-se insatisfeita com uma fala do vereador da situação. “O Edmilson disse que, naquela sessão em que a situação tinha maioria, poderia ter barrado requerimentos da oposição”, lembrou ela, destacando que a oposição é sempre maioria” e nunca barrou “projetos vindos da situação”, entendendo a fala do vereador como ofensiva.O vereador, ao usar da palavra, separou um tempo para comentar a fala da vereadora, embora tenha ressaltado o clima de harmonia existente na casa, não desceu do salto e disse que Tia Cenira não entendera a sua fala. “Eu disse poderíamos, mas não o fizemos, portanto fui mal entendido”. Não houve aparte nem da Tia Cenira nem de outros vereadores da oposição, que se calaram diante da verve oratória de Amparado, mas a este repórter que acompanha as sessões até o final todas as segundas, ficou a impressão que era disso mesmo que Tia Cenira reclamara.
Aliás, foi ela – Tia Cenira – quem conclamou os vereadores de oposição a derrubar os vetos do prefeito José Hernani. Ela disse que o apelo feito aos vereadores de oposição caíra por terra – que se não aprovassem o REFIS não haveria recursos para pagar o 13º- diante da declaração do secretário de Fazenda, Edson Toledo, de que estes recursos já estavam separados.
Hernani estabeleceu veto à emenda que previa o limite de inclusão no REFIS para quem deve ao erário até R$ 4 mil reais, argumentou que todos são iguais perante a lei. A oposição entende que a intenção oculta é beneficiar grandes devedores da prefeitura.
Na fala da Tia Cenira está a expressão mais legítima da oposição. Ela lembra o que dizia Sêneca,o senador romano no Parlamento de Roma, a respeito do papel dos senadores, já naquela época tido como pouco importantes. “Os senadores são gralhas, fazem ruídos e com isso assustam o César”. A vereadora exerce seu mandato cumprindo o papel que a população lhes outorgou, como minoria. Sabe que pode ser vencida (embora a oposição seja maioria no plenário), mas não deixa de ser a gralha que alerta a situação de seus possíveis excessos e erros. O parlamento municipal tem mesmo pouca coisa a fazer, mas este papel lhe cabe muito bem e ela o exerce com denodo.
Já Jefinho age na Câmara como o cidadão indignado. Nem sempre se posiciona com clareza como oposição, preferindo, apostar no bordão "o que for bom para a cidade tem meu apoio", mas as circunstâncias o tem levado quase sempre para o posto oposicionita. Tem sido veemente nas suas falas. Mostra coragem. Na sessão do dia 09/11, lembrou que já tinha dito que a compra do Country pela FESP podia ser questionada na justiça e está sendo.
Mas foi no seu posicionamento quanto a Folha da Manhã que se mostrou por inteiro como cidadão. Excetuando os momentos em que quase beirou a ira, abordou com propriedade o papel que o diário tem exercido na comunidade passense. Ele avaliou que o jornal não valoriza nenhum político de Passos e que o espaço positivo está sempre reservado para os políticos de São Sebastião do Paraíso. Destacou que não teme ataques e disse que sempre vai se posicionar contra a imprensa que tenta denegri-lo, numa referência direta à Folha da Manhã.
No ensejo de Jefinho, o presidente da Câmara, Nivaldo Chaparral, fez um dos pronunciamentos mais contundentes contra o jornal. “Sabe quem mais ajudou a Folha da Manhã?”, perguntou aos seus pares, dando ele mesmo a resposta: “o deputado que dá nome a este plenário, Neif Jabur, e ela enterrou o deputado”, fuzilou. Agora vem “cobrar transparência da Câmara, como se não fossemos”. Por que ela não “cobra transparência da prefeitura? Será que é por causa do que ela recebe de publicidade de lá? Por que não cobra transparência do SAAE? Da Santa Casa?”, em seguida afirmou que “eles não têm caráter, se julgam os donos da verdade”, completando que dormiria tranqüilo, porque “tenho a consciência tranqüila e sou como parafuso do Paraguai, se apertar espana”, dizendo que não iria polemizar com o jornal. “Deixa pra lá, não vão me atingir”, concluiu. O posicionamento contra a Folha da Manhã levou até ao sempre comedido vereador e médico Cláudio Félix a se pronunciar. Ele acusou o jornal de formar uma imagem negativa dos políticos de Passos. “O jornal só elogia os políticos de São Sebastião de Paraíso, em Passos ninguém serve e isto contribui para que a região não vote em nossos candidatos”, disse.
Há quem diga que brigar com a imprensa não é bom caminho. Mas não se pode negar o direito que alguns órgãos de imprensa as vezes negam de dar oportunidade das pessoas atingidas mostrarem o outro lado. Para isto, escondem atrás da chamada “linha editorial” e deitam e rolam, uma hora abrindo a boca contra quem daqui a pouco podem estar apoiando. Quase sempre estas mudanças de humores acontecem ao longo da história diretamente proporcional ao volume de verbas publicitárias destinadas a eles , o que pode ser uma simples coincidência, não se sabe. Ainda bem que existem as gralhas com seus gritos estridente,porque quem sabe se nenhuma atitude possa ser tomada contra isso, o cidadão comum seja capaz de entender o que os seus gritos querem dizer.