Pude constatar. Agora há pouco -não mais que quatro horas (São 22:00h)- tive que ir ao Pronto Socorro. Sentia dores no peito. Infartado e safenado suspeitei de algo mais sério. Corri ao socorro. Quem precisa de socorro é, na verdade, o próprio Pronto Socorro, foi a constatação.
Mas, como dizia, corri atrás de socorro. Relatei o fato à atendente. Chamada a enfermeira responsável fui colocado para dentro em menos de cinco minutos. Eram quase seis horas da tarde. Depois de trocado de fila, medida a pressão, chegou o momento de falar com o doutor.
Ai chegou a hora da fila. Neste momento o olhar do paciente cedeu lugar ao do repórter. Anônimo entre tantos, ouve-se ali: “estou aqui desde a uma da tarde”, reclama a senhora. “Ih, isto não é nada, teve gente que chegou às onze da manhã e acabou de sair agora”, diz outra.
Do lado, num dos quartos que ficam em frente aos consultórios, uma senhora grita, chama o médico, apela para os enfermeiros, parentes e amigos tentam acalmá-la. Em vão...a dor ...ou seja lá o que for...traz a inquietação e não há remédio que cure...
O corredor é o próprio muro das lamentações. A senhora chega jorrando sangue pelo nariz. “Não pára”, informa uma moça que parece ser filha. “Melhorou?”, pergunto. Me detenho na observação....penso numa forma de ser solidário...não me escapa um jeito melhor: “Melhorou?” Volto a indagar. A resposta vem acompanhada de um leve esboço de sorriso. “Tá parando”.
O médico me atende. Esperei apenas uma hora. Pouco, diante das idas e vindas de macas, carregando pessoas para lá e para cá. Algumas têm que esperar no corredor.
A enfermeira toma providência. “Este senhor não pode ficar aqui na maca no corredor não. Vamos levar ele para o quarto”. Chama um auxiliar. Andam um pouco pelo corredor. Cadê o quarto vazio? Ainda não tem. Então, deixa ele mais um pouquinho no corredor.
A moça reclama. “Fiz uma raspagem, to sentindo muita dor...vou no postinho e o médico não pode atender....tem um ginecologista só....então tive que vir aqui”. Faz tempo que está aqui? “Muito tempo”, diz ela.
De repente avisto uma pessoa amiga. Quer saber o que faço ali. Ela informa ao médico que sofri um infarto dentro do PS. Aguardo a minha vez, o caráter de urgência por se tratar da suspeita de um problema no coração me coloca na frente de outros. Me sinto constrangido. Digo ao meu médico que se não for a minha vez, espero. Ela mostra meu lugar na fila. Era minha vez.
Cardiologista ele indica um eletro. Mudo de fila. Sozinho na porta do local do exame, aguardo. A dor no peito traz desconforto. Está chegando a temível hora da troca do plantão.
Dá tempo de ficar sabendo que o dia foi muito agitado. Houve confusão. “Uma rádio teve aqui”, diz uma mulher. ““O médico deixou o plantão e foi embora”, completa a outra. Nisso uma enfermeira me diz: “já vou fazer o exame”. Me resigno a esperar.
Entra porta adentro uma outra pessoa conhecida. Me pergunta o que tenho. Relato. Mas o que me incomoda é a perda total do meu anonimato. Daí pra frente as coisas fluem. O eletro é feito. O médico me atende com atenção. Me indica um remédio para a dor. Saio com a sensação de que fui respeitado nos meus direitos.
Na porta do consultório encontro de novo com o doutor, meu conhecido das lidas políticas, já estivemos do mesmo lado. Ele veio a ser até secretário de saúde. Eu apoeie um projeto político, mesmo sem cargo. O eleitorado não aprovou o projeto que eu considerava interessante. Mesmo assim permaneci nele. O meu conhecido mudou de lado e ganhou a eleição.
“Não é porque somos de partido diferente que não vamos tratá-lo bem”, disse-me. “Sei disso”, falei e pensei, mas não revelei. “Só faltava isso acontecer”. Ele torna. “Temos todos que trabalhar pela saúde....ela anda meio”, faz um gesto que explica que a saúde não vai bem.
Assim que ele vira as costas uma senhora comenta na mais pura sinceridade: “será que não tem vergonha de dizer isso? Melhorar a saúde?”. E deita falação. Reclama do atendimentos nos postinhos. Diz que as fichas são poucas. Que precisa ir de madrugada para a fila senão não consegue consultas...e...e..por aí vai.
Todo mundo sabe que a crise da saúde acontece no País inteiro. É, de verdade, endêmica. Mas em Passos, o que falta é competência para gerencia-la. Pude observar que há profissionais atenciosos, que trabalham com zelo. O que não vi foi a presença da direção, dos que comandam, que tem que estar por perto.
Desde jeito, com esta falta de compromisso com a população, não há remédio que mude este rumo.
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