Tem sido comum, a quem acompanha com espírito crítico o mundo da política, assistir a desencantos e decepções. As alegrias, nesta seara, são poucas, porque numa realidade que deveria ser construída em cima de projetos, portanto de sonhos, quando o homem de se propõem a fazê-lo via regra estabelece conflitos e o naufrágio fica evidente.
Na edição de 46, 2 a 8 de julho, o semanário Gazeta Regional rompe sua aliança com o atual prefeito e administração e expõe feridas, antes tratadas nos bastidores, e, agora, tornam-se públicas. É o que registra o editorial “As verdades não são imutáveis”.
O semanário não cita nomes, mas aponta falhas na administração que poderiam ser atribuídas a oposição. Começa por lamentar o fato de ter que apontar o dedo para um antigo aliado, mas firma-se corretamente no propósito crítico quando diz depositava “muitas esperanças” em Hernani e que, “por motivos variados”, passaram a “enxergar que estávamos errados”.
Frisa que, como “a maioria dos eleitores de Passos”, esperavam “um governo municipal renovador e com vontade de trabalhar”. Não é esta, aponta o editorial, a “realidade que hoje vemos”, ao contrário, registra, o que acontece “são alianças com pessoas e instituições sem um mínimo de comprometimento com os eleitores e com o povo de Passos em geral”.
Na outra ponta, analisa, “temos observado pessoas humildes serem mal tratadas por assessores na porta do gabinete do prefeito, assessores imbuídos em um espírito arrogante e sem preocupação com aqueles que neles votaram”.
Daí para a frente o editorial aprofunda o sentimento de decepção, passando pela avaliação da área de saúde, colocando em destaque que “decepção é justamente o sentimento que hoje temos”.
É importante ressaltar que a Gazeta Regional demonstra, com a posição tomada no editorial, que o castelo de cartas do prefeito José Hernani está ruindo. O jornal diz claramente a razão: o projeto político esboçado na campanha eleitoral, com ênfase na saúde, foi abandonado, antes mesmo que fosse colocado em prática.
Assim, ao priorizar o clientelismo, como crítica a Gazeta Regional, o prefeito perde aliados preocupados com a construção de uma política que atenda as demandas sociais e caminha para uma situação irreversível.
Por enquanto, a situação apontada pelo semanário, sinaliza para o desgaste político do prefeito José Hernani, mas as fissuras no grupo político poderão levar a uma situação de ingovernabilidade, porque as denúncias tendem a se aprofundar, cada vez mais substanciadas em documentos, aí a queda do governo passa a ser uma possibilidade concreta.
A Gazeta Regional cumpriu o seu papel. Primeiro quando deu seu apoio irrestrito a um projeto político e agora quando aponta as razões porque refaz sua posição editorial. Esta muito na linha de que “quem avisa amigo é”, mas pelo jeito que as coisas estão caminhando pelo lado da administração só vão encontrar ouvidos moucos.
Parabéns ao semanário pelo postura pública, porque realmente “as verdades não são imutáveis” e, no caso da imprensa, expressar o que se sente não é uma decisão que deva permanecer em foro intimo, mas tornada pública, como muito bem foi feito no editorial.
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